A Mãe

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O lugar é o Jardim Romano, Zona Leste de São Paulo, mas poderia ser qualquer periferia do Brasil. A narrativa trágica de uma mãe e um filho às margens de uma sociedade desumanizada. O cotidiano enquadrado a partir das ausências do Estado, juntamente com uma certa robotização dos gestos. Os acontecimentos previsíveis de um dia a dia duro respaldam o estado automático da mãe.

O filme de Cristiano Burlan dialoga com o real, lançando mão de personagens que, na vida, têm a experiência dessa história no corpo e na alma, como Débora Silva, do grupo Mães de Maio. A atriz protagonista, Marcélia Cartaxo, dá vida a uma mãe que guarda o que resta de humanidade para a convivência com o filho Valdo (Dunstin Farias). É com ele que Maria exercita seu afeto e um pouco de seu humor.

Dentro dessa perspectiva de tragédia, encontramos com assuntos que estampam as manchetes dos jornais, o desaparecimento de alguém e a falta de informação perpetuam o sofrimento e, o que poderia ter fim ou ao menos ser atenuado com o esclarecimento do episódio, se transforma em uma tortura, prolongando a perda, agravando a dor, alimentando o luto.

A expectativa de uma notícia constrói o silêncio do filme. O abandono e a falta de empatia transformam a angustia de Maria em revolta e seu senso de perigo vai aos poucos se perdendo. O filme anuncia sem dizer que todos sabem o que aconteceu, a banalização da violência se alimenta na ideia de que a vítima é culpada. Tudo que não há no filme é justiça. A despreocupação de Valdo, junto com sua quase inocência – expectativa de artista, nos entrega um desfecho muito mais doloroso. O filme nos mantem alerta para o fato de que pessoas estão morrendo, porque são invisíveis, porque são geograficamente desprivilegiadas, enquanto mães órfãs perambulam em busca de suas histórias.

https://youtu.be/WZRMi30Q5G8