A Conferência

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A Conferência

A paisagem cinza e os automóveis chegando a uma grande casa à beira do lago Wannsee em Berlim anunciam a atmosfera burocrática que será dinamizada durante todo o filme A Conferência, obra dirigida por Matti Geschonneck, com Johannes Allmayer e Maximilian Brückne. Essa abordagem oficial se manifesta também na arrumação de uma longa mesa austera, no trato dos convidados para reunião, ditando o ritmo de uma conferência que decidirá ‘A Solução Final da Questão Judaica’.

O tema por si só leva o espectador a uma busca de que algum personagem, naquele momento, transformaria esse episódio histórico, de janeiro de 1942, em algo mais humano. Mas Geschonneck não faz por menos, alguns planos quase nos impelem a acreditar que algo inusitado daria um novo rumo àquela história. Porém, a frieza discursiva nos resgata dessa ilusão. Cada frase, cada ideia vão desenhando aquilo que seria o maior crime contra a humanidade.

O tom administrativo com que homens brancos debatem a melhor forma de aniquilar uma etnia é o principal caminho dessa narrativa cruel. Não há crise, o que há é uma disputa de quem propõe a melhor maneira para assassinar quase 6 milhões de pessoas. O tempo de reunião não dura mais que uma manhã. A objetividade alimenta uma ânsia criminosa, um desprezo pela vida daqueles que se julgam diferentes. Uma atitude dentro de um encontro com características quase prosaicas, resultando em um evento como o Holocausto.

Nos fica a sensação de impotência póstuma, indignação e vazio a cada gesto, a cada carro que parte quando pessoas se despedem de mais uma rotineira reunião, com mais um entrave burocrático resolvido. Ainda que o filme trate de um assunto de conhecimento de todos, sua importância, principalmente neste momento, põe em foco um fato histórico que precisa ser lembrado, que precisa fazer parte das conversas, das aulas e do nosso cotidiano, para que não esqueçamos ou nos tornemos insensíveis ao outro e à vida.