O Beco do Pesadelo

“Você não engana as pessoas. As pessoas se enganam.” (Filme, O Beco do Pesadelo)

Quem assiste aos filmes de Guillermo del Toro sabe bem que suas narrativas se baseiam no fantástico, no maravilhoso para não sucumbir ao duro e trágico destino das questões humanas e não permitir que suas histórias caiam em lugar comum pessimista.

Ao filmar a nova versão de O Beco do Pesadelo, del Toro exercita com muita tranquilidade o gênero Noir. Com mão leve e assertiva, sua produção realiza uma metáfora muito bem construída dos horrores e pesadelos da Segunda Guerra Mundial, sem mostrar uma cena de batalha ou tecer grandes discursos a respeito do tema. O filme é uma adaptação de um clássico da literatura norte americana, O Beco das Ilusões Perdidas, de William Lindsay Gresham, lançado em 1946 e que logo foi filmado por Edmund Goulding, sob o título O Beco das Almas Perdidas, em 1947.

A abordagem de Guillermo nos leva para um circo de “desajustados”, misturando ao espetáculo o declínio de uma sociedade e a miséria humana, tudo em nome do entretenimento, justificando o horror. Talvez hoje não estejamos muito diferentes do que estes mambembes esquisitos propunham ali como distração. Olhar a desgraça alheia por meio de imagens compartilhadas pelas redes não está muito distante disso. A ambição e a arrogância que norteiam o personagem Stan (Bradley Cooper) ignoram que outro ser possa possuir inteligência suficiente para decifrar seus truques. A mediocridade pode até chegar ao topo, mas dificilmente se mantem por muito tempo lá, outra máxima contemporânea que uma história de 1946 nos leva a identificar.

O suspense de Guillermo del Toro não se prende aos gêneros propostos ali, mas nos mantêm dentro do filme, à espera de uma solução ou moral, alimentando uma previsibilidade sofisticada, um certo prazer de filmar, um rigor na linguagem, nos deixando a sensação de querer ficar ali no cinema para sempre, assistindo aquela história. Ao final nos parece que algo faltou, no circo, no cíclico, na vida, no filme.