Partida

Publicado por

Nada como o dia da independência do Brasil para falarmos de um cinema independente. Se bem que essa produção está mais para uma ação entre amigos. Necessária e em boa hora.

Partida – ato de partir, saída – substantivo feminino que dá título ao filme de Caco Ciocler, uma produção ensaística que nos leva em uma viagem cheia de ideias na cabeça e uma câmera muito bem fixa em um ônibus em movimento. Mover, aliás, me parece o mote desse docpeçaensaio pois, o gatilho para o filme, o grupo não sucumbir à estagnação, foi o resultado das ultimas eleições para presidência do Brasil.

Toda premissa do filme ensaia uma verdade, ainda que flertando com a liberdade do ponto de vista dos envolvidos, revezando com um certo didatismo a palavra. Polarização que permeou o ano eleitoral, o que em nada diminui o valor da produção. Uma vez que a prioridade é o doc, tudo na viagem é feito para o seu bem ou o para o seu mal – os embates ideológicos, a dr, o discurso e o ato de assumir, com uma racionalidade em demasia, os porquês do roteiro. O que não é intencional ali, vira. Aos olhos do espectador.

À medida que vamos nos dando conta de que o estranhamento sentido, por assistirmos um filme-processo, é gerado pelo fato de não conseguirmos nos ater a uma verdade, vamos nos libertando. Georgette está muito mais preocupada em perguntar, apesar de sua verve a trair, demonstrando o contrário.

O que em alguns momentos nos parece uma ficção mal feita é quebrado logo em seguida pelas reações de frustração ou de entusiasmo nas personagens. O ethos exposto fabrica em nós dúvidas e receios porque, paradoxalmente, o realismo transborda quando o ego não dá conta das atuações. Quando a personagem não consegue ser verdadeira consigo mesma, desmonta, e, é nessa hora, que ganhamos um documentário.

O tema, atualíssimo, que guarda um desfecho com um Pepe Mujica, em uma participação de luxo que, com o texto na ponta da língua, discursa quase como em um colóquio, previsões preocupantes, enquanto afaga afetuosamente a cabeça de uma não mais tão furiosa assim Georgette Fadel. Consolando-nos a todos.

Então, é hora do carnaval e a fantasia está completa, produzindo a nossa realidade. Aguardemos a PARTIDA, ou não?