Às vezes um simples aroma nos remete ao mais remoto lugar interior, o que nos constitui enquanto ser e nos fortalece. Essa produção, A guerra dos sexos, em sua dinâmica prosaica nos resgata uma ideia de que a luta é dura e feita no dia a dia, se efetivando enquanto construção de algo maior. O filme segue para além das questões de gênero, vislumbra sobre o direito de ser uma mulher, de ser uma mulher lésbica e isso em nada a diminui enquanto tenista – professora, advogada, médica, dona de casa …

Se antes era necessária a discussão sobre gênero, hoje é temática recorrente e quase obrigatória na sociedade. Nessa perspectiva, o cinema vem sendo um grande aliado na propagação desta questão, colocando em pauta uma reflexão sobre as condições da mulher na sociedade contemporânea. Assim, trazer à baila a história da situação da luta por direitos feministas é um grande mérito do registro cinematográfico. A linguagem audiovisual é uma potente ferramenta discursiva, para o bem ou para o mal.
O filme A Guerra dos Sexos, no original, Battle of the Sexes, de Jonathan Dayton e Valerie Faris, já se faz importante pelo registro da luta das jogadoras de tênis pela equiparação dos valores dos prêmios oferecidos nos torneios do esporte, que pagavam quantias inferiores para as atletas femininas.
No entanto, para apresentar essa narrativa é preciso falar de uma personagem de forma inteira, plena, e é por meio desse possibilidade que o filme alcança outra bandeira e realiza com eficácia esse recorte da história de Billie. A história aborda uma grande disputa de tênis que aconteceu na década de 70, entre o ex-campeão Bobby Riggs (Steve Carell) e a líder mundial do tênis feminino à época, Billie Jean King (Emma Stone). Um evento que levou a discussão sobre igualdade de gênero a um outro patamar.
A grande repercussão da partida, por mais “espetacular” que tenha sido midiaticamente, foi extremamente importante para colocar as tenistas femininas no seu lugar de direito. O filme ainda mostra um Bobby Riggs desesperado para não cair no ostracismo, usando e abusando da sua condição privilegiada de macho branco decadente. Enquanto a tenista Billie Jean King tenta administrar sua condição de mulher, vivendo à sombra a crise com sua sexualidade, o conflito que alimenta a trama nos lembra a todo momento que não somos nada sem liberdade. Um roteiro que propõe uma discussão sobre gênero que já começa a partida com o homem 5 x 0 a mulher.

A história é muito bem ambientada. Uma viagem no tempo que nos coloca diante de questões muito contemporâneas, quando ainda nos pegamos tendo que enfrentar pensamentos e posturas conservadoras. Um filme que aponta para conquistas que ainda ontem foram arrancadas à duras penas dos “porcos chauvinistas”, nos colocando diante de uma confusa conclusão: ainda temos um longo caminho a percorrer e devemos ficar em eterna vigilância.

Um filme leve e, até, um pouco colorido, mas que guarda em suas entranhas uma ânsia de liberdade de ser quem se é e de amar.