Abrindo arquivo na quarentena, revendo para não ficar cego de tanto ver. Tropicália – Uma aula de antropofagia

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 Atenção para o refrão

É preciso estar atento e forte

Não temos tempo de temer a morte

O que é hoje olhar para o movimento tropicalista que mexeu com as estruturas do cenário cultural de um Brasil dos anos finais da década de 60? Tropicália, um documentário de Marcelo Machado que, com muito rigor na pesquisa de imagens, traz para tela uma colcha de retalhos de cores vibrantes em seu material em preto e branco, onde as fotografias gritam: É proibido proibir! É proibido Proibir!. Uma época em que a necessidade de se afirmar era uma ânsia e a liberdade era um crime prestes a ser banido.

Marcelo dá aos seus entrevistados as imagens de uma época que ficou para a história. Conduz as entrevistas a partir do olhar de quem fez a Tropicália e, para isso, ele parte de duas memórias, uma, registrada em seus planos e óticas de seus contextos históricos sociais nos arquivos de fotos e vídeos raros, belos e fortes e, outra, no discurso de quem participou e em toda a sua complexidade se permite às contradições observadas diante de um tempo outro.

Vozes que se dizem e contradizem ao falar de um momento em que a música insinuava uma certa inconformação latente com a mesmice do mundo e começava a explodir aos berros muito bem cadenciado suas verdades feitas de mentiras passadas a limpo. Uma juventude que queria vomitar o excesso e ser parte de um Brasil, porque não poderia ser (de) o Brasil.

O mérito do documentário poderia se encerrar no seu próprio objeto, mas o diretor e sua equipe fizeram muita diferença com as escolhas de assumir certo didatismo numa proporção essencial para o filme e também ao correr atrás de um material visual perdido, espalhado por aí, provocando um tom de raridade, num momento em que imagem é um dejá vù constante, vide you tube.

Diante dos recentes documentários que exploram o mesmo tema, o diretor Marcelo Machado poderia cair no lugar comum e falar com a mesma admiração cega dos artistas dessa época, porém, ao invés disso, ele propõe uma autocrítica ou uma autoidolatria aos seus entrevistados, fazendo um embate entre criador e criatura.

Movimento: s.m. Ação de deslocar ou deslocar-se; seu efeito. Entender o movimento tropicalista como um processo exclusivamente musical é impossível. As atitudes e posturas de seus artistas enquanto manifestações estéticas sublinham uma atmosfera de um agonizar de palavras e gestos e o movimento só se constitui enquanto movimento por ter adeptos e, principalmente, por seus contrários. O incômodo, o arrebatamento, a dialética provocada pelos encontros dos parangolés pensados em suas mais diversas formas de fazer arte. Ainda assim, há a singular Tropicália que canta uma liberdade de se expressar musicalmente, pura e simplesmente.

Portanto, olhar para esse tempo hoje com toda sua liberdade ilusória nos dá uma preguiça de votar, de cantar, de ser… Sem saudosismo, assistir Tropicália é perceber o que foi o exercício antropofágico.

Atenção

Tudo é perigoso

Tudo é divino maravilhoso

O Canal Curta Exibirá durante todo mês de junho.

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